quinta-feira, 18 de agosto de 2011

É retorno ou consulta normal?

Assunto de interesse público!

Dentre tantos temas na pediatria, informações a serem divulgadas e dicas para papais e mamães internautas, decidi mudar totalmente o foco do blog para falar sobre um assunto muito delicado: honorários médicos.

Nas últimas semanas, por viver uma situação muito desagradável no consultório, resolvi prestar esse serviço a todos os pediatras e falar sobre assuntos que nos são desconcertantes, pois poderíamos estar ferindo a ética médica.

Como todos devem estar acompanhando, a classe médica vêm reivindicando, junto aos convênios, reajustes sobre os honorários médicos e em especial a pediatria, pois temos uma característica que foge um pouco do padrão. A pediatria trata-se de uma especialidade exclusivamente clínica, ou seja, nossos rendimentos provém exclusivamente das consultas médicas. E nossas consultas são demoradas e imprevisíveis, pois dependem da colaboração das crianças, do nível de ansiedade dos pais e vários outros fatores.

A puericultura é ainda mais especial, pois preconiza a avaliação holistica do paciente, sua saúde física, mental e social. Não trata-se apenas de pesos e medidas, mas da prevenção de doenças, ajustes na rotina e discussões de problemas, sejam eles educacionais, nutricionais e familiares. O pediatra torna-se referência para família que espera nele conforto e soluções práticas, rápidas e infalíveis ( socorro!!!).

E é neste sentido que a pediatria vêm conquistando alguns méritos, e conseguindo valores diferenciados para puericultura, através de um programa de valorização do pediatra e da medicina preventiva.

Recomenda-se que a criança com desenvolvimento
normal passe por uma consulta de puericultura duas vezes no primeiro mês de vida e uma vez por mês até completar 1 ano. Após 1 ano consultas a cada 2 meses e após 18 meses a cada 3.

Com isso frequentemente ferimos as regras dos convênios, que determinam que as consultas tenham intervalo de 30 dias ou serão consideradas retorno. Como todo pai já deve ter vivenciado, sob qualquer dúvida ou sinal de alerta, normalmente o pediatra pede que o retorno seja feito em menos de 30 dias.

Quer um exemplo? Se seu filho consultou no dia 4 de Agosto e não ganhou tanto peso como esperado mas também não era nada muito importante, o pediatra irá pedir uma reavaliação precoce e a próxima consulta de puericultura ficará agendada para o dia 28 do mesmo mês, o convênio poderá considerar retorno e não efetuará o pagamento ao médico (este procedimento é chamado glosa). E aqui fica a primeira dica. Quando seu médico pedir uma consulta precocemente por qualquer motivo que seja, orgulhe-se do seu pediatra, pois ele sabe que corre o risco de não receber pela consulta mas mesmo assim prefere acompanhar o paciente de perto. Ao contrário do que muitos imaginam, o pediatra não está tentando ganhar uma consulta a mais.

Mas não seria então um retorno? O que é retorno? Acredito que muitos pais tenham essa dúvida.

O retorno é a reavaliação médica para casos em que a queixa do doente não se resolveu em uma consulta ou precisa ser acompanhado, monitorado como no caso de uma doença aguda (pneumonia, otite...) , resultado de exames ou no caso de piora. Uma questão muito subjetiva que acaba ganhando uma regra generalizada pelos convênios que estabelecem um prazo de tempo pré determinado.

No caso acima exemplificado não trata-se de um retorno, trata-se do acompanhamento natural da criança que será avaliada numa nova consulta de puericultura.

Tudo muito delicado, subjetivo e que merece a individualização de cada caso para se definir o que é consulta o que é retorno. E mais difícil ainda pelo constrangimento da discussão entre médico e paciente que pode não fluir tão naturalmente como poderia ser.
A segunda dica então é discuta com seu médico se tiver oportunidade, mas dê preferência à equipe da recepção, pois eles normalmente são treinados para avaliar cada situação e discutir se for necessário.

O que me motivou a falar sobre isso agora? A perda de um paciente muito querido, e tudo pela falta de informação. Na tentativa de economizar nas consultas a família vinha prejudicando a mim e a instituição em que trabalho. E infelizmente, essa história não tem um final feliz.

Peço desculpas pelo desabafo e por usar este espaço para discutir um assunto tão espinhoso. Mas realmente acredito que até mesmo esse tipo de informação deva ser divulgado e refletido por médicos e pais e que resulte num maior compromisso de um com o outro.

Abraços

Vanessa